Quem nasceu ou costuma visitar o sertão potiguar já deve ter ouvido falar no fruto pêlo, nativo da palma, espécie de cacto da caatinga. Esse tipo de vegetação é bastante comum na região do semiárido e muito utilizada para alimentar gado. Pois a comadre não sabe, mas o fato é que a palma é bem mais que isso; já tem gente tirando dela verdadeiras iguarias finas!
A primeira vez que ouvi falar desse assunto foi no passado, quando a amiga chef Gabriela Sales voltava de Angicos — , município do sertão central potiguar — encantada com uma pesquisa de uma jovem que tentava trabalhar com a polpa dessa frutinha rústica para fabricação de suco, geleia e sorvete.
A jovem em questão é Kaline Cristine de Castro, proprietária da sorveteria Sertão Gelado. Em parceria com o Sebrae, ela de fato conseguiu concretizar seu projeto e o sorvete acabou virando realidade. A fábrica da sorveteira integra o projeto Incubadora Tecnológica e Multissetorial do Sertão do Cabugi, na Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa).
Eis que esta semana o assunto voltou à mesa. O tal sorvete de pêlo criado por Kaline foi trazido para Natal pelo gastrônomo e dono do restaurante Dolce Vita, Zé Maria Xavier. Já tem um tempo que o Dolce Vita investe no uso de produtos de forte acento potiguar, como é o caso do arroz vermelho, da batata doce, cordeiro e camarão do mar.
Zé Maria viu recentemente a notinha no jornal e logo tratou de ir a Angicos conhecer de perto a iguaria. Adorou!
De fato, é uma delícia. É azedinho mas com textura leve. A polpa é carnuda e mantém o sorvete cremoso. É servido acompanhado com a calda feita com sementinhas do fruto. Zé Maria disse que o sorvete já está disponível para o cliente. É só pedir. O Dolce Vita fica na rua Mossoró, em Petrópolis.
Olhaí mais um exemplo de como o apoio à pesquisa pode ajudar a descobrir alimentos com potencial gastronômico, cultural e econômico.
Quem quiser conferir o sorvete em Angicos, a loja de Kaline também trabalha com sabores típicos da região, como manga, caju, umbú e abacaxi e, claro, o sorvete da fruta do pêlo. Há ainda sabores de milho, tapioca e rapadura. Atualmente, a empresa tem uma produção mensal de 750 litros de sorvetes e 6,5 mil picolés de diversos sabores, segundo informações do Sebrae.
A fruta pêlo possui uma polpa carnuda que também pode ser utilizada na produção de geleias, mousses e recheios em caldas. O quilo chega a custar R$ 10. O preço é compatível com a dificuldade no beneficiamento. O fruto deve ser manipulado com cuidado uma vez que a sua casca possui muitos pontinhos cheios de minúsculos espinhos, os pêlos, que penetram na pele. Para retirá-los se faz necessário o uso de uma pinça.
Texto complementado com informações de reportagem do Sebrae RN