Modesto Neto*
Dilma tenta “salvar” a Petrobras, acena para o capital internacional enquanto o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy estima cortes no OGE acima de 60 bilhões de reais. O slogan “Governo Novo, Ideias Novas” já pode ser descartado: cortes sociais e medidas impopulares fazem parte de um velho receituário, liberal.
Que o ano de 2015 seria um ano de crise e muitos enfrentamentos, isso já se previa desde meados de 2014 quando a economia dava sinais de desaceleração e as manifestações populares de junho de 2013 ecoavam um ‘ethos’ de insatisfação no ar. As eleições decididas no segundo turno mandaram um recado para a presidenta Dilma: o PT não é mais unanimidade. Dilma prevaleceu sob Aécio Neves por apenas 3,4 milhões de votos na eleição mais apertada desde a democratização. O PT que em 2002, 2006 e 2010 com Lula e Dilma obtiveram respectivamente maioria de 19,4 milhões, 20,7 milhões e 12 milhões de votos contra os candidatos tucanos aparentemente perdeu uma parcela significativa da confiança do eleitorado brasileiro.
Para assegurar a confiança de parcelas amplas do eleitorado brasileiro é imperiosamente necessário assegurar que não haja declínio dos postos de trabalho que foram criados com o ciclo econômico crescente dos últimos 16 anos. Neste sentido é preciso que o mercado internacional continue apostando fichas no Brasil e assegurando as condições para financiamento de empreendimentos e novos investimentos.
Apesar do trabalho precarizado e informal ser preponderante na configuração do mundo do trabalho brasileiro não se pode negar o aumento dos postos de trabalho no Brasil. Contudo, o aumento de postos de trabalho neste momento não é uma tendência nem no Brasil, nem no mundo. No relatório da Organização Internacional do trabalho (OIT) intitulado "World of Work Report 2014: Developing with Jobs” divulgado pela ONU, estima-se que neste ano de 2014 tivemos 203 milhões de desempregados no mundo. O aumento das demissões é uma tendência mundial e a Espanha que cravou 26% de taxa de desemprego no último trimestre de 2014 é um exemplo claro desta tendência como Grécia e outros países da Europa.
O Governo da presidenta Dilma tem a difícil missão de equilibrar os limitados ganhos sociais e os reajustes fiscais necessários para o superávit primário e consequentemente os juros da criminosa dívida pública. Para tal tarefa foi escalado o economista liberal Joaquim Levy ao Ministério da Fazenda e sua tarefa é cortar gastos. Antes mesmo da aprovação do Orçamento Geral da União para 2015 o Governo fez por via de Decreto editado em oito de janeiro um corte imediato de 1,9 bilhão (22,7 bilhões de reais anual), embora a realidade seja ainda mais alarmante. Os ministros da Fazenda e Planejamento, Levy e Nelson Barbosa projetam “poupar” 66 bilhões de reais que não isentará o brasileiro de vários aumentos tarifários e tributários que se anunciam. Eis as “medidas impopulares” que Dilma acusara Aécio ainda na arena eleitoral.
Hoje cogitar uma auditória da Dívida Pública e suspensão do pagamento (55 bilhões anuais de amortização), alargamento dos direitos sociais e trabalhistas, suspensão do pagamento de obras superfaturadas e encanamento de empresas privadas que agem em áreas estratégicas do Estado como energia, portos, aeroportos, rodovias, divisas territoriais, petróleo e tecnologia no curso do atual Governo do PT é um sonho do campo da esquerda que sabemos que não se realizará. Na pretérita e dicotômica relação capital e trabalho o PT fez sua escolha e não há dúvidas que a legenda não escolheu a moeda dos trabalhadores. O velho receituário liberal para evitar ou sair da crise em que o Brasil vive é cortar na carne do povo brasileiro, rebaixar direitos e costurar os acordos com o capital e o mercado.
Hoje a principal estatal brasileira derrete no mercado de ações no mesmo ritmo que os escândalos de corrupção tomam conta dos jornais. Petróleo e lama se misturam na gestão da Petrobras e as ações vacilantes da presidenta Dilma não são capazes de brecar a queda e a desvalorização internacional da mais estratégica estatal brasileira. Na posse do novo mandato a presidenta Dilma citou com destaque as relações diplomáticas com EUA pela sua “importância política, econômica e diplomática” e a Arábia Saudita. O aceno obsceno ao capital internacional em torno de um acordo tático afim de que o Brasil não seja rebaixado pelas agências de risco foi dado, mas ainda não respondido. O certo é que neste acordo os cortes nas áreas sociais são inevitáveis e para os trabalhadores não restará outra opção senão apertar os cintos.
As medidas impopulares começaram. Dilma acena ao capital e fez aponta que o país evitará uma crise que na verdade já começou com “os menores sacríficos possíveis” aos trabalhadores. A tradução literal não é poética, mas sim material. Se o Ministério da Educação em janeiro teve “contenção” de 33%, imaginemos as outras áreas sociais quando os cortes de mais de R$ 60 bi do Ministro Joaquim Levy alcançar os horizontes sociais e trabalhistas. Uma certeza já se desenha: 2015 será um longo ano marcado pelo recorde de lucros dos bancos. O prato na mesa dos banqueiros será ainda mais fino, mas a conta vai para a mesa dos trabalhadores. O garçom e a garçonete atendem por senhor Levy e dona Dilma.
(*) Modesto Neto é historiador, mestrando em Ciências Sociais (UFRN) e dirigente do PSOL.