A pandemia global do novo coronavírus mudou os procedimentos de autópsia no Rio Grande do Norte. Desde março deste ano, o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), responsável pelos exames cadavéricos para determinar as causas das mortes que acontecem no estado, restringiu o atendimento para evitar propagação da Covid-19.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), os corpos estão sendo liberados após autópsia verbal - sem exame cadavérico - e eventualmente com "causa indeterminada" na declaração de óbito. A alteração nas diretrizes do SVO abre um novo gargalo no Rio Grande do Norte: em alguns casos, o óbito pode não ser esclarecido aos familiares.

Sem o exame de necrópsia convencional, os médicos patologistas devem declarar a autópsia verbal, a partir de análise externa do corpo e entrevista com familiares para determinar a causa aproximada da morte. Em alguns casos, a partir dessa entrevista com familiares, é possível fechar a causa da morte.

Até a manhã desta quarta-feira (22), o RN registra 28 mortes por coronavírus e 608 casos confirmados da doença.

Com a alteração, o SVO passa a receber exclusivamente corpos de morte natural que não tiveram assistência médica. Ainda segundo a Sesap, a nova medida de segurança é uma recomendação do Ministério da Saúde.Além disso, sob orientação do Ministério da Saúde, o SVO também não está recebendo corpos de pessoas que morreram com a suspeita para Covid-19. Nestes casos, a recomendação é para que seja feita a coleta do material para o teste do coronavírus em até 6 horas após a morte.

Causa indeterminada


Ainda segundo a Sesap, nas mortes "de causa imediata" e de "bases desconhecidas", os médicos estão autorizados a assinarem declaração de óbito com "causa indeterminada".

Foi o que aconteceu com o pedreiro Antônio Araújo da Silva (foto acima), de 34 anos, que foi sepultado, na terça-feira (21), sem que a causa da morte fosse especificada. Segundo familiares, Antônio faleceu com sintomas de tuberculose. Ele não foi testado para a Covid-19 porque não foi considerado um caso suspeito e também não foi levado para a necrópsia em razão do novo funcionamento do SVO.

"O médico só colocou na declaração que a morte não tinha causa determinada, só que a gente quer que seja feita a autópsia para saber o que de fato aconteceu. Isso não é justo, é um misto de dor e incerteza", lamenta Rafaela Cristina Araújo Silva, irmã do pedreiro.

Sobre a situação, a Sesap informou que "infelizmente, em momentos excepcionais como os que estamos vivendo isso deve ocorrer" e que as medidas de segurança no SVO estão sendo adotadas em todo o país. "Esse é um momento muito delicado que estamos passando na verificação de óbitos. Isso é uma orientação nacional. A ideia é que não tenhamos necrópsia nesse período de pandemia porque existe um risco muito grande", destacou o secretário adjunto de saúde Petrônio Spinelli.

G1RN
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