Os cientistas do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) - alguns integram também o comitê científico do RN - recomendaram nesta segunda-feira (29) que o governo do Rio Grande do Norte prorrogue até o próximo domingo (4) o atual decreto de isolamento social rígido que tem validade até o dia 2 de abril.
No documento, os cientistas ainda recomendam que se faça um toque de recolher integral de 48 horas - das 5h do sábado (3) até 5h da segunda-feira (5).
A intenção dos especialistas com as medidas é evitar aglomerações durante o feriadão da Semana Santa em todo o Rio Grande do Norte.
"Esse toque de recolher de 48 horas é a circulação zero de pessoas em todo o RN, como nós já vimos em outro momento, que aumentou de maneira expressiva a taxa de isolamento social de todo o estado", explicou o diretor executivo do LAIS, Ricardo Valentim.
No relatório, os cientistas indicam que março tem sido um dos piores meses desde o início da pandemia e que isso exigiu medidas mais duras, já que houve recorde de internações e o terceiro maior número de mortes e também o terceiro maior número de casos confirmados durante o mês.
Os especialistas apontam, no entanto, que após a implantação de medidas mais duras no estado e especialmente em Natal e Região Metropolitana, houve uma melhora da situação, ainda que a situação siga sendo considerada crítica.
"Com base nas análises realizadas, é possível afirmar que a situação de saúde do estado, em virtude da pandemia, ainda é considerada grave. Todavia, já é possível observar, em todo o RN, uma redução dos pedidos por internação em leitos covid-19. Isso, provavelmente, já pode ser fruto dos primeiros impactos positivos do último decreto publicado", conclui o documento, que reforça, no entanto, que ainda não é momento de relaxar as medidas.
"Como os resultados, neste momento, ainda são lentos, não é possível falar, agora, em relaxar as medidas sanitárias, ao menos até a Páscoa. É necessário ter uma maior clareza quanto à sustentabilidade na redução das solicitações de internações por Covid-19 por um prazo maior de dias, com o propósito de poder orientar de maneira mais segura as autoridades públicas do estado no que diz respeito ao relaxamento das medidas impostas no último decreto".
A intenção do LAIS é de que com esse prazo estendido, além de se evitar aglomerações durante o fim de semana, também seja possível entender melhor o impacto das medidas restritivas no combate a pandemia no estado.
"Que o decreto seja estendido pelo menos até o fim da Páscoa. Vai estender mais alguns dias, que é tempo suficiente pra se fazer novas análises e observar como se está essa atenuação, ocupação de leitos, como também redução de pedidos por internação", explicou Ricardo Valentim.
O médico epidemiologista Ion de Andrade, que também assina a recomendação, é outro que reforça que as medidas já tem impactado na redução da pressão por leitos. Apesar disso, ele reforça que isso também só aconteceu por conta da abertura de novos leitos críticos no estado neste período.
"Influência há do decreto porque a gente tem sempre visto que medidas restritivas diminuem a velocidade do contágio. Outro componente dessa equação é a quantidade de leitos disponíveis, que teve um aumento", afirmou.
Nesta segunda-feira (29), o estado tinha cerca de 100 pacientes na fila por um leito crítico de UTI - o número na semana passada variava entre 130 e 140. Mesmo com a diminuição, o cenário segue delicado.
"De qualquer maneira, nós continuamos numa situação muito crítica, porque 100 pacientes na fila com perfil crítico não é um número que autoriza a qualquer tipo de flexibilização", falou Ion de Andrade.
Veja as recomendações do LAIS
O atual decreto do estado deve ser mantido até o final da semana da Páscoa (04/04/2021).
Implantar, no sábado e no domingo de Páscoa, toque de recolher de 48 horas, iniciando-se às 5h da manhã do sábado (03/04/2021) até às 05h da segunda-feira (05/04/2021).
Após a Páscoa, deve ser iniciado o retorno às aulas em formato híbrido com 50% da capacidade para as atividades presenciais.
O Governo do Estado e os municípios devem apresentar um plano de retomada gradual das atividades econômicas.
Os educadores físicos, por serem profissionais de saúde, devem ser incluídos na lista de vacinação já nas fases prioritárias, pois esses têm um papel social importante e muitos deles estão expostos em academias e também porque trabalham com a população considerada de risco.
As Pessoas com Síndrome de Down devem ser priorizadas na vacinação, pois há comprovação científica de que estes fazem parte do grupo de risco, logo não é possível negligenciar essa população.
Os gestores públicos não devem investir recursos públicos em fármacos sem autorização da Anvisa, cuja bula do medicamento não conste explicitamente a indicação clínica para covid-19. Ao contrário, todos devem unir esforços em prol da
É altamente recomendado que as autoridades públicas do estado e dos municípios invistam em pesquisas clínicas para o enfrentamento a covid-19.
As autoridades sanitárias do estado devem alertar a população que a prescrição off-label de medicamentos sem autorização da ANVISA para a covid-19 é algo desaconselhado pela Associação Médica Brasileira. Caso a indicação clínica não conste na bula do medicamento, o paciente deve ser informado de que se trata de um método terapêutico experimental, uma vez que não há evidências científicas de que o mesmo tenha ação profilática e/ou terapêutica contra a covid-19. Além disso, o paciente deverá ser informado de que é preciso manter o distanciamento social adequado, usar máscaras, fazer higienização frequente das mãos com água e sabão ou álcool 70%.
Diante dos resultados apresentados em estudos científicos amplamente divulgados e revisados por pares sobre o uso indiscriminado e da automedicação utilizando Ivermectina, Cloroquina e Hidroxicloroquina, é fundamental que o Governo do Estado e demais municípios elaborem um plano de comunicação voltado para população em geral alertando sobre os riscos do uso desses medicamentos.
O Estado e todos os municípios precisam, urgentemente, discutir o retorno às aulas das escolas públicas, pois essas são as mais afetadas durante todo o curso da pandemia. As crianças e os adolescentes mais pobres do estado já foram bastante impactados pela falta das aulas presenciais, aspecto esse que poderá ampliar ainda mais a desigualdade social no RN.